9 coisas boas sobre o país do Leve-Leve

Voltei.

São Tomé foi dos pedacinhos de terra mais bonitos que já vi. Cheguei a Lisboa de alma cheia, embora com alguns vestígios de intoxicação alimentar e um pavor absoluto de padecer de um ébola dissimulado. Eles bem diziam, no folheto informativo de prevenção, que não devia “tocar em cadáveres” nem “conviver com morcegos” nem mesmo “tocar em lençóis de falecidos com ébola.” Foi com alguma dificuldade que assenti a tudo isto, uma pessoa assim não viaja à vontade.

Long story short, deixo-vos os highlights da viagem (vou usar o máximo de anglicanismos possível para se notar que estive de férias no estrangeiro, ainda que CPLP):

1. São Tomé é a terra onde o verde é mais verde.

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2. Comi frutas absolutamente maravilhosas cujo nome nunca tinha ouvido antes de chegar a São Tomé. Falo de jaca, uma espécie de ananás com sabor a banana, falo de carambola, uma fruta em forma de estrela estaladiça com a textura da romã, falo de banana-maçã, auto-explicativa, falo de cajamanga, uma manga que dá 10 a 0 às outras, falo de fruta-pão, uma coisa tipo batata mas melhor.

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3. O meu primeiro pé em todo o areal são-tomense calhou ser, na penumbra da noite, exactamente em cima de uma santola. Uma santola de proporções vigorosas, sedenta de vingança, que disparou em fúria para o mar, naquela corrida de lado que elas fazem. Daria um excelente couvert para o jantar, não estivesse eu a recuperar do gravíssimo ataque cardíaco que me provocou o susto;

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4. Este encontro de 3º grau com marisco foi o mote para visitar uma aldeia chamada Neves, a capital da Santola. Lá serviram-me a maior que já alguma vez vi (avó da outra e morta da silva, naturalmente) e qual não é o meu espanto quando me deparo não com garfo, não com faca, mas apenas e só com um martelo de madeira. O único instrumento à disposição para explorar as entranhas do bicho. O que aconteceu a seguir foi uma espécie de fogo-de-artifício de lascas de marisco, esguichos de suco santolês e, no fim, um cenário de destruição marinha à volta de uma barriga muito, muito satisfeita.

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5. As pessoas são um verdadeiro encanto. De riso fácil e uma simpatia genuína como nunca tinha visto. Um exemplo disso é esta menina chamada Adelaide, tímida e francamente desdentada, que por alguma razão resolveu gostar de mim e quis ficar ao meu lado a tirar selfies. Conheci também o Ricardo, que para além de guia turístico é vocalista numa banda de música tradicional chamada “Relíquias”. Estivemos a ouvir em loop as 5 músicas do CD original. Like a Boss.

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6. É preciso correr perigo de vida na avioneta que nos leva lá, mas vale a pena. O Príncipe consegue ser ainda mais verde que o verde mais verde de São Tomé.

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7. Experimentei levar um alguidar de batatas na cabeça como elas levam. Um suplício, louvo-lhes o cabedal para aguentar aquilo. Para mim bastava ter mais uma batatinha, daquelas pequeninas que comemos a murro com o bacalhau, e eu não estaria aqui para contar a história.

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8. As praias são desertas e inacreditavelmente bonitas. Vêem-se baleias nesta altura do ano, e daqui a uns meses começam a vir as tartarugas, para desovar.

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9. Na Roça do João Carlos Silva (o meu sempiterno ídolo do programa “Na Roça com os Tachos”) comemos coisas com nomes indecifráveis. Recordo apenas um picante de nome “fura-cueca” – sinto que dispensa explicações. O dito José não estava mas conhecemos outro José memorável: o José Luís, conhecido como “Fu”, simpático moçoilo que nos serviu e era agricultor, pescador, “cozinhador” e, pasmem-se, bailarino. Contou-nos que uma vez foi pescar e sentiu que a canoa dele embateu em algo rijo na parte de baixo, isto em pleno alto mar. Seria uma rocha? Qual quê. Era uma baleia. O José Luís atracou numa baleia. Coisas que acontecem.

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E contou-me também que um dia cortou o dedo do pé de propósito para ver um jogo do Benfica no hospital, já que não tinha televisão em casa. Coisas que acontecem também.

São Tomé deixa saudades, e o ritmo leve-leve devia ser património da UNESCO.

Adorei.

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Um Comentário Add yours

  1. Teresa Seruya diz:

    Verdadeiramente magnífico, o relato e o que imaginamos através das palavras como sempre certeiras. Sugestivas fotografias.
    Sugestão: acompanhar o Gonçalo Cadilhe nas viagens dele. De certeza que os relatos dele não são melhores do que este.
    Toda a consideração e gratidão (pelos belos minutos de leitura) desta que se subscreve com protestos de amizade
    Mimi

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