Mas confesso que não sei o que é que odeio mais:
. Se é a hecatombe de casais que sai de mão dada das catacumbas da sua mantinha no sofá para vir atormentar a lotação de todo e qualquer restaurante com olhinhos brilhantes, passeios com mão no bolso do rabo do outro, chochinhos com língua tímida, garfos dados à boca um do outro e aquele olhar de cão fiel que diz “Tu és a única coisa que importa neste mundo.” (certíssimo, mas se era para isso deixavam-se ficar no sofá a ver qualquer filme com o Richard Gere e a Julia Roberts e não aborreciam ninguém)
. Se são os jantares de embrace-your-solteirice que se organizam por contraste, numa espécie de contra-poder movido a migas encalhadas que partilham um certo gosto masoquista/sádico pela autocomiseração de estarem sozinhas, muito embora tentem simular que estão a curtir montes nestes jantares com gritos histéricos e gargalhadas de cabeça atirada para trás, para mostrarem ao mundo que estão meeeesmo bem assim, girl powaaaaaaaaa! (de volta a casa, barril de gelado em posição fetal)
. Se são – e esta é capaz de ganhar – as moralistas de cordel que dizem com ar de ralhete que “O Dia dos Namorados devia ser todos os dias”, tal como já o dizem sobre o Natal.
É capaz de ser por isto que tantas relações definham – do outro lado há uma pessoa que não quer um amor normal, simples, do quotidiano, antes quer à força que ambos apanhem diabetes com doses cavalares de paixão hollywoodesca, bilhetes escondidos, trincas no lábio que fazem ferida e serenatas à chuva todos os dias. Só que depois vem a vida real, o lábio infectou, a madeira da janela ganhou caruncho e alguém apanhou uma pneumonia. Como é que é agora?
Como vêem, é muito ódio contido num só famigerado Dia do Amor – e eu até sou uma pessoa pacata e tranquila na maioria dos dias. Acho simplesmente que não são boas as emoções que presidem a este dia. Mas nada contra quem celebra – desde que não me venham ENCHER A CARA DE CUSPE!
O Dia dos Namorados é uma invenção, está frio lá fora e o amor que deixaram hoje de manhã vão encontrá-lo em casa logo à noite, igualzinho a ontem e sem surpresas – e se essa ideia por si só é algo que vos deixa feliz, então têm muita sorte.
Sem outro assunto de momento, despeço-me com votos de um feliz dia de São Valentim
Fui jantar com o meu namorado no dia 14 de Fevereiro, porque as terças-feiras são o dia em que jantamos juntos, fora de casa; portanto, calhou. Posso dizer que o nosso restaurante preferido estava atolado de casais… E o mais curioso, e talvez seja um exemplo do que se praticou pelos restaurantes nesse dia, o casal que estava na mesa próxima da nossa quase não trocou olhares e muito menos “dois dedos de conversa” – cada um com a cabeça enterrada ora no prato, ora no telemóvel. E não preciso acrescentar mais nada… 🙂