Questões que me corroem por dentro:
Porque é que há jovens mães com uma necessidade imensa de falar com os seus filhos no Facebook?
Reparem que eu não disse “sobre” os seus filhos no Facebook – isso até era normal, eles são queridos e bochechudos e tal – eu disse com.
Todos conhecemos uma ou várias assim – acho que é epidémico na nossa geração. Falo daquela estirpe de mães que para se gabarem dos seus pequenotes no Facebook resolvem recorrer a todo um discurso directo altamente psycho, com posts e partilhas tenebrosas ao estilo: “Filhote, há um ano atrás vi-te nascer, tive-te nos braços e contigo nasceu outra parte de mim. Obrigada por me fazeres feliz. Amo-te filho”.
Ora, vamos lá ver se nos entendemos:
– O filhote é capaz de ser simultaneamente a ÚNICA pessoa no mundo a quem aquela partilha interessa e a ÚNICA pessoa no mundo que não está online naquele momento para ler aquilo. 1º Porque tem 2 anos e não sabe ler: 2º Porque tudo o que faz é comer, dormir e fazer cócó e 3º Mesmo que soubesse ler ia ficar altamente embaraçado com esta manifestação pública de afecto;
– Como é que este tipo de partilhas aconteciam antes do Facebook, perguntam vocês? Não aconteciam. Porque seria absurdo imaginar uma conversa de café entre amigos e conhecidos em que de repente alguém grita “Amo-te muito filho! Foste a melhor coisa que me aconteceu!” sem que o filho se aviste em parte alguma. Esquisito, não é?
– Mais esquisito ainda é imaginar a dita mãe toda empolgada a escrever um post cheio de homenagens delicodoces ao seu rebento mas na vida real estar a ignorar por completo o ruído ininterrupto do walkie-talkie do puto a chorar no berço há mil anos – CALÔ, DEIXA A MÃE ACABAR ESTE POST!
E nem me obriguem a falar sobre as mães que falam no Facebook como se assumissem a própria voz da criança. TE-NE-BRO-SO. De repente sou um pirralho de ano e meio já versado em língua portuguesa, com emoções complexas e opiniões sobre tudo.
“Hoje comi a minha primeira papa” – e aparece o puto sem dentes todo badalhoco – “Hoje fui à praia e gostei muito” – e aparece o puto feito croquete na areia a sorrir levemente (foram precisos 55 takes) – “Gosto muito do meu maninho” – e aparece o puto com ar nauseado abraçado ao mano (a mãe obrigou).
Mas que raio de cena é esta de as mães se apropriarem da narração da vida dos filhos? Há uma razão biológica para eles só começarem a falar aos 3 anos de idade, respeitem esse voto de silêncio plamordeus.
E agora vocês dizem-me “ah quando fores mãe vais perceber.”
Talvez. Mas espero sinceramente que tenha amigos de verdade que me digam: “Pára, por favor.”
Há ainda aquelas mães que criam contas de facebook para os seus rebentos e “dialogam”. Como psicóloga o meu impulso seria avaliar uma patologia da consciência do eu mas sei se resume a estupidez.