Este fim-de-semana vou acampar. É o que acontece quando a memória do sofrimento do ano passado já está turva o suficiente para cairmos na mesma asneira este ano.
E estas são as 7 coisas que eu sei que me vão aborrecer no acto de acampar. Vou partilhá-las aqui com o intuito de as exorcizar:
- Montar a tenda. E não falo daquelas que explodem no ar em 2 segundos. Falo das que metem varetas e picaretas, e exigem mestrado em Física Quântica. E se montar essa tenda é mau, montar essa tenda à noite é muito pior. Só tem piada aquela parte de fingir que sabemos onde é que o sol vai bater (até hoje não sei como é que triunfámos nos Descobrimentos). Claro que acabamos a dormir em cima de um calhau pontiagudo. Ou numa descida assustadoramente íngreme, que nos faz acordar enfiados na aresta da tenda, com todo o conteúdo da tenda em cima (inclusive vegetação do ano anterior). E ao sol, claro.
- As manhãs. Aquele acordar pesaroso, mortífero, corta-pulsos, de quem queria dormir mais mas não aguenta o calor. Aqueles inebriantes 70 graus de ar parado, plenos de suor, álcool gasoso, orvalho quente e muito, muito dióxido de carbono. Aquelas gotinhas de suor que se acumulam num semi-círculo acima do buço. Aquela garrafa de água que dava jeito mas apre, ninguém se lembrou de comprar na noite anterior. Aquela demência fingida face a uma bexiga a rebentar. Aquela indecisão existencial: “Enfrento o mundo com esta ressaca monumental ou fico aqui tipo leitão assado?”. Nunca é um momento muito digno.
- Os vizinhos. Aquelas pessoas que se recusam a perceber que a tenda é feita de TECIDO. Como tal, não evita que se ouça a conversa inter-tenda e não, não queríamos saber que a Teté pediu o tampão à Fifi. Nem queríamos ouvir o ronco-TGV do fulano da direita. Nem os avanços atrevidos do casal da frente. Por favor, párem. O ar é de todos.
- A realeza do campismo. Os indivíduos que possuem tendas que parecem salões de baile. Que trazem mesas de refeição e fazem cozidos à portuguesa no camping gás. Odeio-os, porque são sempre eles que roubam a sombra à plebe.
- Voltar para a tenda à noite. Já é uma sorte se encontrarmos a nossa. Depois, o flagelo de enfrentar aquela entrada abrupta na tenda para tão desejado descanso, só que esbarramos com aquela sub-porta intermédia que está fechada. E ficamos ali no hall de entrada, com a lanterna a badalar, a tentar descodificar o códex 632 que regula aqueles dois fecho-éclairs.
- Desmontar a tenda.Ficamos horas a olhar para aqueles ridículos manuais com bonecos, “pressione aqui enquanto puxa ali”, com setas a assinalar o fluxo impecável da coisa. Na ilustração só aparece um boneco mas na vida real claro que somos no mínimo 3 gandulos a tourear aquilo, e as setas ficam completamente desgovernadas em todas as direcções. É por isso que na manhã do último dia de festivais o som ambiente é exactamente igual ao de uma maternidade concorrida: puxaaaaa, forçaaaaa, só falta aquele bocado finaaaaaal, empurraaaa. Também não é muito digno.
- Essencialmente tudo. Mas é o mal-menor se a ocasião valer a pena.
Estou em pulgas. Oxalá que fossem a pior estirpe de bicharada que vou encontrar por lá. ❤
Caracas vey, pensei que aí fosse mais fresco. Se aí na Península Ibérica faz tanto calor dentro da tenda no acampamento, então eu não me admiro que aqui nos “Patropis” essa prática nunca foi popular, aqui nêgo ia acordar torrado dentro da tenda.