Se tudo na matemática fosse Tu + Eu = ui ui

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É em momentos como este, quando me encontro às 3h da tarde num frente-a-frente com uma pivot table de Excel cheia de fórmulas matemáticas de complexidade inatingível, que me congratulo por ter sido tão sábia aos 14 anos, quando decidi ir para Humanidades.

Eu ainda conto pelos dedos, confesso. Paradoxalmente, uma das minhas resoluções de Ano Novo é desenvolver raciocínio numérico – go figure. A razão é simples: não consigo fazer contas de cabeça. Pelo menos não com aquela velocidade galopante que exige a rotina do dia-a-dia. Aborrece-me fingir que entendo a lógica quando me pedem para facilitar o troco na mercearia – “não tem 40 cêntimos? Assim ficava certinho.” Aborrece-me não perceber porque é que assim ficava certinho.

Tal como me aborrece não conseguir dividir logo a conta do jantar. Quando somos 2 ainda dá para partir ao meio mas quando somos 3 é meio caminho andado para dar uma explosão de casas decimais e aí já me lixei. Às vezes simulo que estou em processo, “ai espera, então isso dá… hum…ham…hum…ai espera…” até que alguém diz primeiro, ufa o sofrimento acabou e até consegui dar o ar de quem ia lá chegar eventualmente – NOT!

MATH

Nunca percebi o infinito. Principalmente quando é para dividir coisas tangíveis, comestíveis até, como 10 quadrados de chocolate, e dá três vírgula infinito. E eu olho para aquele 3,33333(3) na calculadora e penso “CHALLENGE ACCEPTED!” porque sempre imaginei que seria capaz de superar a matemática apenas com teimosia se escrevesse o número no quadro todo, para fora do quadro, pelas paredes da sala e pelo universo inteiro e assim torná-lo finito pelo cansaço – porque afinal de contas um quadrado de chocolate É efectivamente finito, tem vértices e arestas que delimitam a situação, cabe na palma da mão e na cova de um dente! Não me atirem areia para os olhos! Preferia que me dissessem “olhe, este último quadrado é indivisível, desista e deixe-o quietinho”, mas nunca me concederam essa misericórdia.

Eu era aquela criancinha de óculos que na escola questionava a legitimidade do Pi. Sacana do Pi, não acabava. E se não acabava, como é que se podia usar em contas? Trazia sempre os números todos atrás? Inverosímil! O truque era arredondar, dizia a professora.Ou seja, não se usava o Pi original mas sim uma cópia quase perfeita, por defeito ou excesso. Mesmo com 11 anos de idade eu nunca gostei dessas imitações, e não ficaria de consciência tranquila a usar um Pi impostor, da feira. Muito menos numa ciência exacta.

problemas matemáticos

Vai daí que aprendi a odiar contas no geral, e divisões em particular, mais ainda quando o resultado incluía resto. Também nunca percebi o resto. O resto sobrava, coitado, como o gordinho da turma na aula de ginástica. Não era suficientemente cool para constar na divisão mas ficava ali de castigo, sem função nem sentido na vida, apenas existia, de forma avulsa. Era alto bullying matemático.

E o pior era quando se faziam contas de multiplicar que eram X vezes X e vai 1.  E lá ia o 1 para fora da conta, e jazia ali no canto da folha,  numa espécie de limbo matemático, até ser chamado de volta ao dever. Mas ele ia, realmente, para onde? Alguém se lembrou de perguntar?

Não houve nada na matemática que fluísse em mim de bom grado, não sem uma viagem filosófica prévia. Houve drama na relação incestuosa dos catetos, houve drama na identidade do X e do Y, houve drama nos vários porquês da raiz quadrada.

Sempre fui a criancinha que fazia desenhos e escrevia piadas nas bordas do livro de matemática, nunca a pioneira a adivinhar os problemas. No máximo, dedicava 5 minutos de concentração ao exercício e o mais provável era levar com a cruz encarnada da professora – para quê tentar? Era aproveitar a cruz para jogar ao galo, ou voltar a fazer bigodes nos bonecos.

Se ao menos tudo na matemática fosse como no Bô tem Mel – tu e eu = ui ui.

2 Comentários Add yours

  1. Laissez-Faire diz:

    Também sou assim. Afinal não se pode ser bom em tudo, não é verdade?! 😛

  2. Zélito diz:

    percebo-te tão bem com a minha ancestral relação embrutecedora com a matemática…

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