Este fim-de-semana fui sair e constatei que cada pessoa tem o seu alter-ébrio. Vulgo aquilo em que se transforma quando está brutalmente com os copos. É um nome pomposo para o bipolarismo comportamental que todos temos à distância de 5 gins.

Ora, há características intrínsecas ao alter-ébrio de cada um. Não falo das transformações típicas, como ficar estupidamente emotivo, uma besta agressiva ou um chato do pior – isso são estados de alma, e podem variar consoante a fase da vida que estamos a passar.

Falo antes daquelas idiossicrasias alcóolicas mais ou menos estáveis, pessoais e intransmissívies, semelhantes a uma extensão peculiar de personalidade que só revelamos com uma chiba daquelas.

O Bumba investigou 14 tipos de alter-ébrio. Cada um de nós pode possuir apenas um ou vários em simultâneo. Eis o resumo:

1. O alter-ébrio que acha que está a falar olhos nos olhos mas na realidade está a focar outra coisa qualquer: a nossa testa, o nosso umbigo, o nosso decote ou o simples vazio.

2. O alter-ébrio que acha que o mundo é o seu urinol e não se coíbe de forrar fachadas, carros e qualquer objecto urbano com o seu número 1.

3. O alter-ébrio que desafia a gravidade e tem sempre o copo ligeiramente inclinado, prestes a entornar, mas está convencidíssimo de que o mundo é que se inclinou.

4. O alter-ébrio que tenta alcançar a palhinha da sua bebida com a boca, mas nunca acerta. Esquece-se de que possui duas mãos, e fica ali horas a abocanhar o vazio na área circundante ao seu copo. Chega a ser pungente de assistir ao fim da 44ª tentativa. 

5. O alter-ébrio que vira dançarino mas não tem o mínimo controlo corporal. Regra geral, tropeça nos próprios pés e arrasta alguém para um tralho colectivo.

6. O meta-alter-ébrio, que não se cansa de constatar quão ébrio está, para quem o quiser ouvir pela 2864ª vez.

7. O alter-ébrio que sofre de black-out, aquele que … que… ele acha que…mas não se lembra bem…

8. O alter-ébrio que está muita bem para ir a guiar – “A sério! Eu estou bem, chavalo!” –  enquanto anda aos ésses na direcção do carro. Quando tentam impedi-lo ele faz o 4, aquele infalível sintoma de sobriedade – “Vês?” – e cai para o lado.  Normalmente não sabe como chegou a casa.

9. O alter-ébrio que manda mensagem ao/à ex-namorado/a. E depois se arrepende.

10. O alter-ébrio “tudo à grande”, que paga rodadas como um pimp mas não tem posses para isso. Regra geral, fica sem dinheiro para comer. Deixa que o seu futuro alter-sóbrio lide com isso.

11. O alter-ébrio que antecipa SEMPRE a música que vem aí. Canta logo o refrão quando ainda está nos primórdios do instrumental, só para mostrar que sabe qual é. Fá-lo no meio da roda com os braços levantados para o céu.

12. O alter-ébrio que se deita na cama e sente que entrou no carrossel mágico. Olha para o tecto e vê a realidade fugir-se-lhe das pupilas, girando fervorosamente à sua volta, naquela tonalidade de cinzento fugidio própria de quem não consegue focar. Até teria graça, se não tivesse bolçado pouco depois.

13. O alter-ébrio que bolça mas volta à festa, ressuscitado e mais fresco que nunca. Faz um auto-hi5, orgulhoso do seu fígado.

14. O alter-ébrio que não quer parar de beber, mesmo quando já está nitidamente trêbado, e o sol já nasceu, e há criancinhas a brincar no parque. Ele só quer “uma última jola” e acusa tudo e todos de estarem a ameninar.

15. O alter-ébrio com 1001 teorias sobre como evitar a ressaca. Ele é que sabe: “É beber um litro de água antes de dormir.” “Não é nada, o melhor é comer.””McDonalds.””Achas que sim, o truque é Guronsan para o bucho com dois paracetamóis.””És doido, o melhor é uma cervejinha logo às 10h, para não perder o ritmo”. E o debate continua até estar ligado às máquinas na manhã seguinte, porque nada funcionou.

Eu sou o claramente o 6 e o 11.

E vocês?