Pois é, estive ausente. Se são daqueles indivíduos que ficam desgostosos com a alegria alheia este é o momento para me chamarem nomes feios, porque estive de férias na Tailândia, a brincar aos Nemos e Pequenas Sereias. Já de regresso ao meu bairro, sou a única pessoa cujo bronzeado disfarça as olheiras e a cor macambúzia do primeiro Janeiro com imposto extra.
Tenho a sorte de me pavonear agora, mas a caminho de lá quem disputava a pele ocidental mais translúcida era eu e os suecos. Para realçar o contraste com outras “péis” fizémos escala no Dubai, onde todos ostentam um castanho cor-de-burro-quando-foge invejável. E, num ode ainda maior à translucidez, houve uma escala surpresa em Colombo (no Sri-Lanka – eu também não sabia onde era) onde as pessoas são castanhinho-Cadbury’s. Foi uma uma viagem inteira em degradé! Dali só mesmo directos à Papua Nova Guiné para completar a escala de cores e gravar um anúncio para a Benetton!
O mais memórável nesta jornada de avião foi testemunhar a nossa fragilidade biológica. O fuso horário é tramado. E o seu amiguinho jetlag ainda mais. Saímos de Lisboa às 18h, jantar em dia, servido com toda a tranquilidade no avião… e a partir daí virámos à direita, rumámos para oriente e o relógio começou a andar para a frente de forma descontrolada… e de repente, quando o nosso frágil corpinho só contava com um pequeno almoço, umas tostas e um queijinho de barrar, destapamos o alumínio e pimba, frango assado com caril. Não. Errado. Anti-natura.
Eu bem que pedia, em vão, para alguém me indicar que refeição era suposta ser aquela, visto já me ter perdido nas contas horárias e estar completamente a patinar no Greenwich. Descobri que o meu corpo tem de assimilar mentalmente a cronologia do que vai ingerir fisicamente. Não se trata de um acto apenas animal, era o que faltava comer caril às 7h! Algum respeito pelo relógio biológico, senhores. Lá me disseram que já eram horas de almoço no Dubai, em Lisboa é que ainda não.
Umas horas adiante, mais uma investida surrealista contra a rotina alimentar de qualquer humano: servem-nos pequeno almoço àquilo que segundo as minhas contas foram as 3h da manhã (por favor, não me perguntem “mas 3h da manhã de onde?” – NÃO SEI, justamente!) O meu relógio biológico amuou de vez. Lá me obriguei a comer 3 d0s 27 compartimentos e mini-divisórias do meu tabuleiro da comida; depois, empilhar as caixas e fazer equilibrismo até recolherem – um verdadeiro castigo; com o sono que tinha – habilidade digna de circo Cardinali.
Quando estava prestes a chegar ao ponto hilário do meu sono fa fa fa fa fa fa fa fa fa no altifalante e vamos aterrar. Uma hospedeira fresca e sem olheiras obrigou-me a levantar o recosto da cadeira, e Deus sabe que há poucas coisas no mundo mais violentas que isso. Foi aí que fiquei a conhecer um dos maiores talentos da comunidade asiática: continuar a dormir, com a cabeça apoiada em nada. Um pescoço suspenso e gravidade, é tudo o que eles precisam. Em sono profundo, deixam baloiçar a cabeça tipo bússola, ao sabor da turbulência, ora cai para oeste, ora cai para sul, mas volta sempre ao centro; todos iguais, coreografados, podia ser Deus a jogar pinball.
Chegámos e, assim como assim, eram 10h da noite. Contas feitas, andámos 8h para a frente e o fuso horário, sem qualquer displicência ou aviso, roubou-me o almoço. E já tinha uma perninha no jantar. Quando eu finalmente queria comer o caril, já era hora de fazer ó-ó.
Não se faz.
Bom ano a todos!
“podia ser Deus a jogar pinball” ahah!! priceless……..
Fartei-me de rir!!! Bom Ano Novo, Mariana!!!
Como sempre, gostei mto, mas agora queremos o resto do relato da viagem. Bjs
Estou fartinha de rir com este post! D+!