Os tupperwares são como as relações (ou vice-versa?)

Há cerca de dois meses tinha 20 tupperwares novos, brilhantes, e respectivas tampas coloridas. Comprei-os pela fresquinha, ímpeto de casa nova, uns dentro dos outros que nem matrioskas em copulação. E durante semanas houve um encaixe mágico entre nós, eu mal podia esperar pelo acto de colocar os manjares no plástico e ouvir aquele “crack” de tupperware a fechar, a dar segurança e aconchego ao meu almoço até às 12h30. Andei várias semanas apaixonada pelas minhas novas lanchonetes.

Mas depois aconteceu “aquilo.” Eu já estava à espera, porque já tinha visto acontecer com os outros. Mas nunca pensei que fosse acontecer comigo. Fui tão cuidadosa!

Chamo-lhe “aquilo” porque não há nenhum nome técnico que defina o fenómeno gradual, silencioso mas lancinante, que é as tampas de tupperware deixarem de servir nas caixas.

Mutação geométrica? Rapto alienígena? Mulheres-a-dias pouco hábeis?!

Elas antes eram inseparáveis mas, ainda hoje não sabemos como, continuamos a ter exactamente 20 tupperwares e exactamente 20 tampas, mas NENHUMA SERVE.  Há uma ruptura na relação, a caixa emagrece ou a tampa engorda, a caixa emancipou-se e já só faz de pirex, a tampa derreteu tragicamente no microondas. Pior: a caixa só quer estar com as caixas e a tampa sente que levou uma tampa (e esta hein?).

Isto acontece constantemente, de forma silenciosa, nos armários de cozinha por esse país fora. Nós não as vemos sair nem entrar, mas as tampas vão sendo raptadas, provavelmente para as suas headquarters num universo paralelo, e voltam com dimensões geométricas não muito diferentes, mas suficientes para NÃO CABEREM, de forma alguma, nas suas caixas originais. O Horatio Caine revira os óculos com este fenómeno!

E nós, comuns mortais, às tantas ficamos tão desorientados que só queremos enfiar a tampa redonda na caixa quadrada, insistimos e insistimos, suamos do bigode, “isto já coube antes por isso ou vai a bem”….  Até que chegamos ao nosso ponto de ebulição, e mandamos todos os tupperwares para o b#r@lho, vulgo o lixo. Caixa mai-la tampa, juntos para a eternidade, mas incompatíveis em vida.

É o que acontece nas relações falhadas (não me apupem já a metáfora, favor ler até ao fim!). É assim que começa, com paixão, encaixe mágico, “crack” ali e “crack” aqui; depois surge a habituação e o desleixo, a gordura perpétua que já não sai do plástico, os rivais mais modernos que vão à máquina… e depois a tampa desaparece ou, não raras vezes, a caixa “sai do armário”.

E a relação deixa de servir, por isso deita-se fora e compra-se uma nova, brilhante, com respectiva tampa colorida, que convidamos logo para almoçar.

PS – Sou ou não sou uma Nora Roberts dos utensílios de cozinha?

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6 Comentários Add yours

  1. Muito engraçado! Não podia concordar mais ahah 🙂

  2. Acho que vou até passar isto para o meu blog, com os devidos créditos claro! Se por acaso não quiseres, é só dizer e eu apago imediatamente!

  3. beatriz cardoso diz:

    És! confesso que quando comecei a ler pensei que ias falar do fenómeno do desparecimento das tampas dos taparuweres, porque a mim é isso que me acontece. Algumas tampas tb começam a “funcionar” pior, mas vão cabendo, mas acho que aqui o “truque” é não usar a máquina (que não tenho) para as lavar, porque o que as deforma são exactamente as altas temperaturas. Experimenta e vê lá se não ficas mais tempo na relação 😉

  4. sara seruya diz:

    que máximo, Mariana!!! o fenómeno é transversal às gerações – ou trans-geracional, que ainda é mais fino – porque a mim também me acontece, claro, mas mais na versão, já aqui ventilada, da tampa que sistematica e repentinamente se fina do armário e de toda a cozinha, vá-se lá saber porquê e para onde…

  5. Susana diz:

    A mim nunca tal aconteceu…tem de se aprender a usar cada coisa para aquilo que foi feita…nenhum tupperware feito para ir ao microondas derrete no mesmo! Sempre me explicaram que nem tudo pode ser usado para o mesmo fim…a minha mãe tem tupperwares de há mais de 20 anos e as tampas servem todas…portanto o problema não é das caixas, mas sim do mau uso! (atenção que não sou vendedora :P)

  6. Olá Susana,
    Na realidade as tampas não costumam derreter e as caixas não costumam “sair do armário”. Era apenas uma analogia. Mas agradeço os seus conselhos, vou fazer questão de tratar tão bem as minhas relações quanto a Susana trata dos seus tupperwares! 🙂

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