Ontem foi um dia cheio de descobertas.
Primeiro, entrei na minha casa de banho e descobri que tinha um novo ocupante: o Mickey Mouse. Mas sem luvas, e sem aquela voz de levar bujardos no membro viril. Na realidade era “só” um ratito de jardim. Digo “só” numa clara tentativa de desvalorizar o pavor/nojo/pânico que me assolou durante o tête-à-tête. A minha tête era um arranha-céus a comparar com a tête dele, mas suponho que funcione bem pior, porque ao menos ele teve o sangue frio de fugir para baixo do sofá.
Já eu descobri que encontrar o Mickey no WC resulta numa reação corporal muito próxima à dança tribal africana. Iça o corpinho do chão como se fosse o próprio Deus da Chuva a fazer pé-de-ladrão. Nunca o mundo me viu esbracejar e saltar tão alto, outra e outra vez, eu que prefiro elevador a dois lanços de escadas.
Descobri também que encontrar o Mickey no WC nos faz regredir da vida adulta para a infância em menos de um milissegundo. Nós que lutamos tanto por alcançar a maioridade, por poder beber álcool, possuir telemóvel… Pois bem, quando olhei para aquele corpinho cinzento, rançoso e com pedigree de esgoto é evidente que em Cacilhas se ouviu o meu grito – “PAAAAAAAAAIIIII” – e lá me precipitei a correr para os braços do meu progenitor, apre, a vida adulta não é para mim, pelo menos no que à desinfestação diz respeito.
Mas ele não me passou cartão e mandou-me recambiada para o meu pesadelo, com um valente “faz-te à vida!, era o que faltava, perdoar uns sapatos roídos a um labrador adulto, que já não merece o devido desconto. Ou seja, estou por minha conta, e por conta do Mafu, o spray dos insectos que no máximo vai enevoar a vista do bicho, ou dar-lhe um par de cataratas.
Só que o sacana agora escondeu-se. Deu-me tempo para preparar uma estratégia. Foram muitos anos a ver MacGyver, senhores. Para já, só maquinei uma não-tão-maquiavélica ratoeira, velha e enferrujada, e como nem sequer tinha queijo pus toucinho. O que julgo que seja uma espécie de canibalismo inter-espécies, mas ele que não se faça de esquisito, já que é a última refeição que lhe concedo antes do corredor da morte.
Escusam de me dizer “Ah e tal ele tem mais medo de ti do que tu dele”. É óbvio que ele tem mais medo, mas é um medo apesar de tudo racional, calculista, frio até, de quem é capaz de deixar um carreirinho de caganitas só para provocar o adversário. Há uma simbologia ali, naquele caminho de Santiago feito de excrementos, entre a sala e a cozinha.
Já eu só consegui sair irracionalmente disparada, como se tivesse aprendido a saltar na Papua Nova Guiné.
Mas isto não fica por aqui.
Como te compreendo…
Há poucas semanas encontrei bolachas ‘meio-comidas’ no carro, e junto a um rasto de migalhas, havia um outro de caganitas. Já só imaginava o rato, em plena fila de trânsito na 2ª circular, a subir pelo banco e puxar-me o cabelo, enquanto o condutor da viatura ao lado registava a cena para a posteridade… Felizmente, tal nunca se chegou a concretizar, mas serviu de lição: nunca mais ter comida no carro. Agora até anda mais limpinho 😀