Diários antigos: vergonha alheia ou própria?

Ando em arrumações lá em casa e encontrei os meus diários antigos do 7º ano. Daqueles com cadeado e um enjoativo cheiro a alfazema. Várias coisas a apontar sobre a minha maravilhosa narrativa diária:

. Vergonha alheia. Ou própria, não sei bem. Alheia porque felizmente já cresci e não me reconheço no gremlin pespineto e revoltado que era com 13 anos. Própria porque, enfim, continuo a ser eu não é?

. Temas recorrentes: borbulhas, rapazes, odeio o mundo, borbulhas, rapazes. Todos os dias “amava” um rapaz diferente. Amor puro, das masmorras do coração, com oscilações líricas desde a euforia à depressão consoante o balanço do dia e o número de olhares trocados. Esse era outro pormenor: quase nunca chegava realmente à fala, era sempre um amor platónico, consumado em X número de vezes que eu olhava para ele e ele para mim, mesmo sem querer, e isso bastava-me para subentender toda uma trama romântica autónoma, porque na minha cabeça o mundo real era exactamente igual ao da Malhação.
Sofria, chorava, escrevinhava tudo no diário, acordava no dia seguinte e apaixonava-me por outro. Fácil.

. Há claramente um TOP 3 de expressões mais usadas: 1. “QUE SECA.” (sobre as aulas, a missa, eventos com pessoas mais velhas, etc) 2.”ODEIO O/A PROFESSOR/A DE XX” (todos, na verdade) e 3. “QUE NOJO.” (sobre os mais variados tópicos, a merenda da cantina era um nojo, levantar cedo era um nojo, o dedo gordo do Tozé era um nojo, beijos com demasiada língua eram um nojo). Sempre em CAPS LOCK, para acentuar ao máximo a verdadeira tragédia incompreendida que era a minha vida na idade do armário.

. E há mais e pior. Fumar atrás do pavilhão sem saber travar, respostas insolentes à directora de turma, experiências alcóolicas de quase-morte com bebidas verdes e azuis fluorescentes.

A sério, ganhei um novo respeito pelos meus pais. A adolescente que fui podia muito bem ter levado uns quantos tabefes extra com a parte de trás da mão.

Agora não sei bem o que fazer. Isto dá-me um misto de saudades com vergonha com nostalgia com embaraço com tanta coisa que não sei se guarde isto se queime. Any thoughts?

Advertisement

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s