Aquele momento em que te apercebes de que ainda és uma mera criança presa num corpo adulto quando acabas de aprender uma palavra nova e tudo o que pensas é: “vou usá-la no próximo jogo do STOP e fazer um brilharete.”
Não sei quanto a vocês, mas eu sou alta máquina a jogar ao STOP.
Tenho um arquivo de palavras memorizadas para cada letra. Tirando o X, o Z, o K, o Y e o W, que são lixadas e a linha fica sempre em branco com tudo a olhar uns para os outros com ar de parvo à espera da desistência colectiva.
Tipo, escolham uma letra ao calhas. O quê, a letra “A”? Por-fa-vor:
Amílcar, Arménia, Andorinha, Amolador, Almofada, Ameixa, Anil, Amígdala, Anthony Hopkins STOP.
Fa-cí-li-mo.
Está claro que depois ninguém neste mundo descodifica os meus rabiscos de médico a não ser eu, mas who cares.
O problema do STOP é que depois de tantos anos ainda há malta que não percebe o segredo do jogo e opta por banais “Ana, Alemanha, Amália Rodrigues” e outros que tais. Põem Joões com J e Marias com M.
Estudassem.
Mas aborrece quando ninguém dá luta nos 20 pontos.
E quando nos davam aquelas brancas monumentais tipo “Países com “P”, catano?!?!”
De lápis em riste, “Objetos com L, FÓNIX?!?”
Ou, pior ainda, quando éramos os únicos a quem faltava uma categoria que era canja e que já todos tinham, e ainda nos humilhavam mais com um “Oh, é ÓBVIO.” Intensificavam o olhar e tentavam transmitir algo por telepatia mas na nossa cabeça só existia o assobio do vento. “DUUUUUHHH. PENSA LÁ, VÁ. PÁ, A SÉRIO?!”
Era um nome com M, tipo, sei lá, assim de repente: o nosso.
E quando tudo isto redundava em discussões filosóficas que duravam horas e quase acabavam relações, do estilo “Mas aspartame não é um objecto, ó batoteiro!” // “É sim porque tudo o que se pode pegar é objecto!” // “Isso é estúpido porque então com um guindaste gigante o suficiente eras capaz de arrancar a Alemanha do chão e pegá-la ao colo – isso faz dela um objeto?!”
E assim sucessivamente pela madrugada fora até alguém se deixar vencer pelo cansaço.
A cena chata agora é que existe a internet para confirmar tudo. Na áurea era do analógico, cheguei a conseguir convencer o meu irmão de que existia uma famosa com W chamada Wanda Stuart, jurei a pés juntos que Iena era com I e inventei um fruto chamado Namasco.
Bons tempos