1. Aquele conversa inicial com a cabeleireira – “então, o que é que vai ser?” – e nós balbuciamos logo um grito desesperado “não quero cortar muito!”, não quisesse ela apanhar-nos desprevenidas para começar a podar tudo à bruta tipo Eduardo Mãos de Tesoura.
2. Aquele momento em que ela nos faz mil perguntas e nós nos apercebemos de que conhecemos pior o nosso cabelo do que a Dona Ermelinda da mercearia. E, logo depois, nos faz sentir como uma mãe negligente por não usarmos os 254 produtos que o nosso tipo de cabelo precisa diariamente.
3. Aquele momento em que choramos por dentro assim que começamos a ver os restos mortais de cabelo a cair pela bata fora e a espalharem-se tristemente pelo chão; mas cerramos os dentes e continuamos a conversa sobre trivialidades do mundo do Jet7.
4. Aquele momento olhos nos olhos connosco no espelho em que estamos, ato contínuo, a arrepender-nos de termos vindo e a estimar quanto tempo vai demorar a crescer para o que era dantes.
5. Aquele momento em que supostamente íamos lá “aparar as pontas e cortar 2 dedos de franja” mas saímos de lá com menos 2 palmos e um saquinho de cabelo para doar porque a cabeleireira deve ter somado os dedos das mãos e dos pés;
6. Aquele momento no fim em que ela nos dá um espelho para apreciarmos a traseira e nos pergunta “Então, gosta?” e nós temos de ir ao submundo das nossas entranhas resgatar o nosso sorriso mais retorcido para balbuciar um “sim”, mentindo com todos os dentes.
7. Aquele momento em que saímos de lá com os olhos marejados de lágrimas e vamos no carro a contemplar incessantemente a tragédia pelo espelho retrovisor, já a pensar no duche imediato que vamos tomar para desmanchar aquele brushing final que, para tornar tudo ainda pior, conseguiu moldar o nosso novo penteado em forma de glande.
8. Aquele momento em que passamos os 6 meses seguintes a inventar maneiras de minorar os estragos com ridículos apanhados com ganchos, rabos de cavalo, acrobacias com o secador e lacas que nos fazem cheirar a velhas de 87 anos.
É a única parte do corpo que não dói a cortar (seria pior cortar um braço ou um lóbulo de orelha, por exemplo) mas, ao mesmo tempo, dói muito.
Cortar o cabelo é muito isto.
Como te compreendo, Mariana! Desde pequena que receio as tesouras dos cabeleireiros e venho sempre deprimida das sessões de corte…