E quando o mundo estava prestes a voltar ao normal, eis que o Homem decide depilar-se.
De forma peremptória e sem aviso prévio, o pêlo masculino perdeu o seu estatuto viril e machão e é agora um alvo a abater. Já não é só o Cristiano Ronaldo. Homens de norte a sul do país estão a barrar-se em cremes Veet para acudir aos desejos maléficos de Cleópatra.
A pinça já não é apanágio do metrosexual.
A monocelha caiu em desuso.
RIP linhas de pêlo facial contínuo, o expresso oriente patilha-barba-bigode-peito-púbis tudo junto, sem paragens. Esse comboio partiu para sempre do país do Zé Povinho, e levou os pêlos todos consigo.
E a partir de agora, onde antes havia uma manta farta de pêlos no peito, agora vêem-se dois mamilos solitários a pontuar uma extensão de pele Dodot.
Que só odiamos menos que essa mesma pele uma semana mais tarde, com os pêlos no estágio 1 de crescimento e a sensação de arame farpado ao toque.
Esta nova estirpe emergente de homem começa por aparar levemente, depois já rapa com a gillete da barba, depois vai buscar coragem para depilar com cera (curiosamente os dois receptáculos dessa coragem costumam passar incólumes – ironias da vida) depois é laser definitivo e, nos casos mais graves, vaselina a rematar por cima, como vemos na Casa dos Segredos.
Ora, há várias questões a debater sobre esta nova realidade.
Uma delas é estritamente territorial. A depilação era nossa.
Doía, mas era a nossa abraçoterapia, uma espécie de “Suíça” neutra, cúmplice pelo sofrimento, que unia a comunidade feminina, de resto tão divergente em tudo o mais.
Outra questão é vir redobrar a gravidade das nossas falhas no modus operandi do aprumo.
Não podemos sermos nós a ter um ou outro pêlo dissidente, quando o nosso mais-que-tudo nos apresenta uma virilha irrepreensível.
Mas o verdadeiro celeuma está, no entanto, em saber como é que nos sentimos com esta mulherização do sexo masculino.
Porque deste lado da dicotomia, é a nós que nos cabe continuar a apreciar a homenzarrada, em prol do futuro da Humanidade.
E não sei quanto a vocês, mas a ideia de tornar os nossos homens ainda mais imberbes parece-me um contra-senso natural, ilógico e acima de tudo anti-clímax, no que ao de mais animal nos diz respeito.
Porque o primeiro passo para apreciar é, antes de mais, distinguir.
(a partir do segundo passo já cada uma sabe de si – eu é mais latinos)
Sei que há por aí mulheres a apreciar. Pronunciem-se, se vos aprouver. Gostos não se discutem e eu não sou fundamentalista (até incentivo a abolição dos pêlos nas costas, que são claramente pêlos do peito sem rosa-dos-ventos que nasceram lá por engano)
Mas se é para negociar, estaria disposta a abdicar das sobrancelhas se me concedessem as pernas, da coxa ao calcanhar, incluindo aqueles pequenos ilhéus nos dedos dos pés.