Quando falo com mães tenho sempre a sensação de estar a ser ameaçada.
Parece que à frente delas é estritamente proibido uma pessoa queixar-se das coisas triviais da vida, porque leva logo com um “quando tiveres filhos vais ver” indignado, possesso, militante quase.
Como se a sua missão no mundo fosse avisar as futuras-mães de que não vai ser pêra-doce.
Ou como se tudo na vida pré-mãmã fosse um mero treino militar para a maternidade.
– Se tenho uma dor forte nas costas – “quando tiveres filhos é que vais ver o que é dor”
– Se arranjei as unhas e fiz a depilação – “quando tiveres filhos vais ver se te preocupas com essas coisas”
– Se tive uma insónia e não consegui dormir – “Quando tiveres filhos é que vais ver o que é privação do sono ”
– Se manchei a camisa com uma nódoa de sopa, “quando tiveres filhos vais ver o que é andar toda badalhoca”
– Se tenho vida social, “quando tiveres filhos vais ver se te apetece socializar depois de os pôr na cama”
– Se tenho a minha casa arrumada, “quando tiveres filhos vais ver como é ter grafittis nas paredes”.
Portanto, resumindo e baralhando, quando for mãe vou:
1. Esbardalhar o corpo todo com a pior dor do mundo e quando finalmente recuperar vai estar tudo flácido, descaído e a badalar;
2. Ficar um mogli, com buço farto e unhas de cavador;
3. Ser alvo diário de tortura do sono e arrepender-me para sempre de não ter dado valor às noites em que dormi 8h de seguida; a falta de sono vai toldar-me a razão pelo que vou assustar as camadas jovens e incitá-las a não procriar;
4. Vou vestir camisas lisas com padrão de nódoas de sopa e papa Cerelac – e elas vão secar e esfarelar-se sozinhas sem que eu me importe minimamente;
5. A única vida social que vou ter é com o Horatio Cane, do CSI, e às 22h30 a relação começa a esfriar
6. E assisto a tudo isto do meu sofá cheio de tralha infantil (também ele sarapintado com nódoas de sopa e papa), delicadamente sentada na ponta afiada de um brinquedo qualquer, daqueles que não páram de apitar mesmo quando já partimos o botão do ON/OFF.
Ah, ok. Está bom. Deixa lá acabar a pilha ao relógio biológico então.
“Mas é a coisa mais bonita que há no mundo, não haja dúvida nenhuma.”, dizem logo a seguir para se redimirem.
E o mundo volta ao normal.
Isso tem a ver com aquela ideia do “ninguém sofre mais do que eu”: Se temos muito trabalho: “Havias de trabalhar na minha empresa”, e por aí fora. Conclusão: ninguém pode estar pior do que “eu”, porque “eu” é que sei o que é estar mal, dando o devido valor às coisas! 😀
Sofia
trezeemais.wordpress.com
Como me identifico…O meu útero vive uma montanha russa emocional e tudo depende se conheço putos fofos e educados ou aqueles terroristas que dá vontade de internar num colégio da Suiça, bem longe!
Antes de mais parabéns pelo Blog.. Não conhecia, mas é o máximo!
Quanto à maternidade, por vezes pode ser difícil, mas acredita o saldo é para lá de muito positivo. Vai por mim!
DOR: existe uma coisa maravilhosa chamada epidural… Mal entrei na maternidade antes de perguntar pelo obstetra perguntei pela anestesista! E viva a evolução da medicina!
DEPILAÇÃO E UNHAS: sim obrigado.. O miúdo fica mais uma horita na escolinha e trata-se do assunto. Afinal, passar de mulher independente, a mãe decadente nunca fez parte dos meus planos.
DORMIR: o meu filhote com 2 meses dormia 6/7h seguidas, agora com 1 ano umas 10h. Único problema, nunca acorda muito depois das 9h da matina, e eu nunca fui propriamente madrugadora,mas sempre dá para andar sem olheiras!
NÓDOAS: isso é uma questão de jeito. Exemplo, bebé à nossa frente, a comer sopa, mas sem apetite, pode assemelhar-se a um jogo de paintball. Temos duas soluções ou nos desviamos das balas ou vestimos o camuflado por cima da roupa.
Só um pormenor, a seguir há que limpar o campo de batalha!
VIDA SOCIAL: é assim quase como sexo no casamento. Diminui na quantidade mas aumenta na qualidade, afinal tenho de aproveitar os momentos ao máximo…
ARRUMAÇÃO: Depende da perspectiva.. Desarrumada a casa? Não.Que falta de sentido artístico. Está apenas colorida e cheia de movimento.
Compensa e muito! O dia pode até estar a ser difícil, mas vira o melhor do ano, só por ter uma pequena mão a fazer-me uma caricia, com a cara encostada na minha, dizendo em linguagem principiante “mamã”…
Sou do contra, gosto de dar corda aos relógios biológicos, afinal o país precisa de natalidade!