Às vezes tenho a sensação de que as malas de senhora são portas de passagem para o outro mundo.
Aliás, estou convencida de que os artigos que ponho lá dentro ganham vida própria quando eu viro as costas, tipo Toy Story.
Se não expliquem-me estes 6 momentos sobrenaturais:
1. Aquele momento em que me apercebo de que há 8 anos que ponho as chaves do carro SEMPRE no mesmo sítio mas elas nunca – nunca! – estão lá;
2. Aquele momento em que fico a achar que a minha mala tem um trampolim embutido porque do nada sai de lá um tampão kamikaze disparado, que naturalmente vem aterrar aos pés dos colegas profissionais com quem estou a encetar uma conversa séria;
3. Aquele momento em que encontro um bolso lateral escondido que não sabia que existia e lá dentro encontro um lenço assoado pelos meus antepassados;
4. Aquele momento em que sou vítima do efeito matrioshka: preciso das lentes e procuro na bolsa, que tem lá dentro outra bolsa, que por sua vez está dentro de uma bolsinha, que contém outra mini-bolsa e por aí fora tipo Inception até que eu desisto de encontrar – quem precisa de ver ao longe anyway?
5. Aquele momento em que os fones e o carregador jogaram ao jogo de infância “Senhor Doutor” e se entrelaçaram de propósito;
6. Aquele momento em que encontro um buraco no forro da mala e naquele limbo entre o forro e a capa encontro coisas dignas de um episódio do José Hermano Saraiva: moedas de escudo, um benuron de 1987, um mentolito perdido (RIP mentolitos ♥), o próprio José Hermano Saraiva…
Não admira que os homens tenham medo de procurar lá coisas, podem ser engolidos e nunca mais os vemos.
Mas que extraordinária sensação de “pertença” tive ao ler este artiguinho… muito bem achado, Bumba, fartei-me de rir!!
Melhor é quando nós (mulheres) estamos à procura de algum objecto na mala, e em vez de olhar-mos la para dentro e procurar, decidimos olhar para o ceu e tentar perceber tactilmente se estamos a tocar no objecto desejado para o tirar!
Brilhante observação. E muito verdadeira. Eu na minha mala às vezes só vou lá com palpação