As Compras
Entro na loja e encontro um vestido bonito. Que sorte, até me fica bem. Só têm um do meu tamanho. Compro já? Não, calma, não me posso precipitar – porque não? não sei bem – é melhor ver outros. Assola-me o pânico – e se alguém me rouba este? Amarroto-o e faço um rolinho. Escondo-o num sítio insólito da prateleira, como que despistando potenciais catraias que queiram meter-lhe a mão. Sinto-me Bonnie & Clyde, e gosto. Varro as outras lojas do centro comercial. Tenho os pés em gangrena. Não encontro nada melhor. O universo queria que fosse assim. Volto à loja e compro, vitoriosa, o vestido que experimentei há 2974 lojas atrás.
Mais à frente olho para uma blusa. Concluo que já ninguém diz “blusa”. Não me apraz. Estou prestes a seguir em frente. Uma mulher pára em frente à blusa que acabei de descartar. Pega na blusa, vira a blusa, e assente em aprovação. Algo me faz sentir um tanto-quanto territorial. A blusa viaja para a provador nas mãos da outra. Alto lá, isto indigna-me. Sofro um surto de cobiça alheia. Afinal acho que gosto da blusa. Caramba, adoro mesmo. É A BLUSA DOS MEUS SONHOS. Enfureço-me em silêncio. Insulto a rameira que vai comprar primeiro. Habituo-me à ideia de andar na rua igual a alguém. A situação repete-se com mais 56 artigos da loja.
Mais à frente, vejo um bonito par de calças. Adoro este par de calças. Nunca na vida me vão caber. Mas nada me impede de experimentar. Só para ter a certeza. Pode ser que esteja mais magra e não saiba. Dirijo-me ao provador, sempre em negação. Faço figas para perder algumas calorias no caminho até lá. Entro no cubículo com a placa a dizer “1 peça”. Ajeito a cortina para não me verem as cuecas. Culpo a luz por todos os refegos e socalcos que vejo nas coxas. Puxo as calças para cima com esforço. Fecho o botão em apneia absoluta. Decido concordar que o par de calças não me serve. Respiro fundo e o botão sai disparado. Camuflo as calças com defeito no meio das outras. Insulto as manequins de plástico por caberem nelas. Concluo que sou um batoque flácido. Amanhã começo no ginásio. Faço promessas de voltar à loja para o ajuste de contas com o par de calças. Nunca volto. Nunca chego a ir ao ginásio. The End.
E Deus criou a mulher… para isto?!? Não fosse o Pai do Céu ser quem é, diria que essa criação foi de cabo-de-esquadra…
Contra os refegos e socalcos nas coxas (não acredito, não acredito, isso é só para as exagenárias), ginasiar, ginasiar!!!
Gostei da raiva contra os manequins, têm a mania….
Tia sexagenária
Pois olha, não te vejo desde os tempos de faculdade mas já na altura estavas no top 3 do ranking das mais sexy daquele edifício. Provavelmente devido à tua constituição mais “sólida” mas há qualquer coisa na maneira como te mexes que faz com que sobressaias no meio de qq outra. E isso, parecendo que não, é fixe! 🙂
Faz tempo que não te vejo excepto pelas fotos do facebook mas a guiar-me por elas acho que te fica mal chorares tanto em público! 🙂
Odeio blogs mas adoro o teu. Fazes me rir por dentro e isso deixa-me com aquela pena por sentir que na altura não ias à bola comigo e que realmente ia ter sido um prazer conviver ctg.
Muito bom!
A do vestido sou eu! Só que na maior parte das vezes quando volto já não está lá e insulto-me até mais não…