Mudei de vida.

change

Viva leitores do Bumba,

Serve o presente texto para vos comunicar que mudei de vida. Despedi-me do meu estabilíssimo emprego numa multinacional para começar um trabalho diferente numa área nova, mais criativa e mais “certa” para mim – assim o espero! Uma decisão algo acagaçante, mas do mais clarividente e confiante que já fui capaz de esboçar (e eu nunca fui boa em esboços).

Sem qualquer moralismo ou falsa modéstia, queria comunicar-vos também que não é assim tão difícil. Principalmente para ti que neste preciso instante estás a picar miolos numa reunião que não faz qualquer sentido, ou para ti que sentes que não estás a explorar o teu potencial ou para ti que sabes perfeitamente que não queres olhar para excéis o resto da tua vida.

Convém dizer que quando me despedi não tinha um plano B. Também não tinha filhos nem atrelados a depender de mim, há que dizê-lo. Só  sabia o que não queria do passado e o que devia procurar para o futuro. E a verdade é que nada disto sucedeu de ânimo leve, na ligeirinha de quem dá um bacalhau apertaducho em alguém importante e puff, toma um novo emprego que é a tua cara.  Quem me conhece sabe que as entrevistas foram o meu hobbie e que é possível trepar paredes depois de ouvir e dizer 10 nãos, porque o trabalhador-estudante é mais barato, ou porque é um estágio não-remunerado ou porque simplesmente não obrigada.

No fim tive o privilégio de poder escolher, e nem precisava de ter sido tão sortuda para perceber que valeu a pena arriscar, desde o primeiríssimo segundo – que é o melhor, devo dizer, porque é quando nos livramos da bigorna que carregamos nos ombros, própria de quem vai infeliz para o trabalho todo-o-santo-dia.

Acredito que os clichés só são clichés porque há verdade neles por isso aqui vai um: a vida É realmente curta.  Curta demais para estoirarmos 80% do nosso tempo útil num trabalho em que definhamos e não temos nenhuma razão para o fazer para além de puro comodismo.

E com toda esta sapiência, própria de quem ainda não viveu nada, queria comunicar-vos também que o truque é convidar a vida a deixar-vos sem muitas alternativas. Quando já não dá para fazer planos, ela fará o favor de vos encurralar, para vosso bem. E aí não precisam de ser tão corajosos, como eu não tive de ser.

É só deixar que o tédio de um trabalho pouco desafiante vos consuma até tomar uma decisão pavloviana por vocês.  É só permitir que o vazio de um dia-a-dia pouco interessante entorpeça o mais atleta dos vossos neurónios para finalmente decidirem que mais vale arriscar – apesar da “crise”, apesar de isto estar “muito mal” e, acima de tudo, apesar dos bitaites do mundo inteiro à vossa volta quanto à inconsciência da vossa decisão.  Tanto melhor, porque se o mundo inteiro acha que pior que o desemprego é impossível, depois é só dar um passo em frente, para um desconhecido largamente mais excitante que aterrorizador – e como “não há pior” só pode ser melhor.

Agora, aliviada, em paz com tudo, e num excitex para conquistar as minhas novas olheiras, às vezes penso que gostava de avançar 3 meses no futuro fazendo corta-mato directo para aquela fase em que já domino o novo trabalho, já tenho buddies para almoçar e já conheço os melhores sítios para estacionar. But then again, qual seria a piada? O desconforto miudinho é um saudável sinal de que, pelo menos, nos importamos.

O verdadeiro medo, aquele mesmo incapacitante, acaba quando tomamos a decisão de mudar, prometo-vos.

Obrigada por me seguirem e por insistirem em achar que o que escrevo é merecedor do vosso tempo (vá-se lá compreender!)

Abreijos

Bumba na Fofinha

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11 Comentários Add yours

  1. Inês diz:

    Boa Sorte!

  2. José Paulo Cabral diz:

    Bem talhado! Boa decisão e que corra bem a continuação… Um apontamento: no artigo que li apresentava-se no fim uma promoção personalizada.que me convidava a comprar as 10 sinfonias do Mahler pelo Pierre Boulez, que há poucas horas tinha explorado no site da Amazon!!! É como água que se infiltra no telhado e vai aparecer na arreacadação da cave…

  3. Pois vá-se lá saber porquê, eu adoro ler-te! Epá, acho-te um piadão! Talvez porque me identifico com muito do que dizes, e mais do que isso, com a forma como o dizes! 😉
    Não sou muito dada a deixar comentários (já te acompanho há algum tempo, escondidinha…), mas hoje não resisti. A reforçar a empatia, esta maravilhosa notícia de mudança de vida, e rio para dentro: estamos mesmo em sintonia!
    O maior sucesso nesta vida nova, e acima de tudo: diverte-te! Aproveita!
    E continua a ser merecedora do nosso tempo, please! 😉

  4. JB diz:

    Tanto oxigenio neste post! Este texto foi me enviado por uma amiga que está a ver o seu namorado a abraçar um novo projeto de trabalho e vida. E ela está a viver a fase do deixa ver como lhe corre ou arrumo as minhas coisas e vou ter com ele… 🙂

  5. Foi exactamente isso que fiz há sensivelmente 2 meses atrás. Lidar com a adrenalina do desconhecido vale muito a pena. Despedi-me também em rumo de outras coisas que me realizassem e me fizessem sair de casa para o trabalho com uma sensação de felicidade e não de obrigação. Boa sorte 🙂

  6. Stefina diz:

    Boa sorte Mariana! Tenho a certeza que vais ser o melhor 🙂 Beijos

  7. Anita diz:

    Mudar de Vida é mesmo a melhor decisão que podias ter tomado, Mariana… quando se está infeliz nem acho que haja outra saída. Custa sim senhor, não será sempre fácil ou quase nunca, mas a sensação de realização e de que estás lá, supera tudo. Eu tomei essa decisão já vai para 4 anos (não tenho poder de endurance nenhum a desconforto laboral) e não me arrependo nem um segundo. Arriscar e sair da zona de conforto quase diariamente só me fez evoluir, e muito…e só passado muito tempo é que tive noção disso. Às vezes passa-me pela cabeça se não teria sido melhor seguir o percurso ‘normal’ porque a incerteza inerente a fazer o que se gosta é do caneco, mas chego sempre à conclusão de que a infelicidade custa muito mais. 🙂 Parabéns pela decisão e tenho a certeza de que vai correr tudo bem e de que o risco irá compensar! 😉 E continua a escrever que gosto muito de te ler! beijinhos

  8. Josélito diz:

    Já vivi esta “cena” duas vezes na minha vida de adulto i.e. despedir-me de um emprego sólido e bem pago e partir sem ter qualquer alternativa de trabalho regular… Ambas na condição de casado, a primeira ainda sem filhos, a segunda já com quatro. Vivenciei, experimentei, aprendi muita coisa sobre mim e sobre a minha relação com os outros. Fiquei a perceber melhor, na segunda vez, o significado do tempo [Mariana, aquilo que escreveste não é cliché, de todo!], e que importa sobretudo a autenticidade com que se vive o que nos é dado viver. Também aprendi algo de muito importante sobre o dom que é a minha liberdade, esse lugar secreto onde decido quem sou – quem quero ser.
    Anos, vários, mais tarde, ao virar de uma página qualquer, uma ode de Fernando Pessoa no seu alter-ego Ricardo Reis confrontou-me com o essencial: PARA SER GRANDE, SÊ INTEIRO: NADA TEU EXAGERA OU EXCLUI. SÊ TODO EM CADA COISA. PÔE QUANTO ÉS NO MÍNIMO QUE FAZES.
    O teu exemplo, Mariana, toca-me deveras. Obrigado por seres assim.

  9. Teresa Melo diz:

    Tava (mesmo) a precisar de ler uma coisa assim. Thanks

  10. Boa notícia Mariana! Sempre disse que não estavas no sítio certo para ti! Força miúda! De facto és uma pessoa MUITO ESPECIAL!!

  11. Teresa Seruya diz:

    Pois eu acho que a grande lição que se tira desta mudança é o incentivo ao arriscar, na consciência de que há condições para tal. De facto, com responsabilidades familiares não seria prudente.
    Fez muito bem, Mirizita!! Antevejo-lhe um futuro de riso escancarado.
    Mimi

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