Aquele singelo dia em que deixou de ser cool usar efeitos de Power Point

Se há coisa que me faz regurgitar são efeitos de Power Point.

Aquelas frases dançantes a entrar no ecrã. Que impregnam a apresentação com profissionalismo e decoro.

Aquelas patéticas entradas de texto a rodopiar, como que saídas do videoclip da La Cucaracha. Um exemplo de seriedade e competência.

Aquelas imbecis coreografias com ClipArts, daqueles que nos recusamos a usar desde que ingressámos na vida adulta.  Um grafismo pioneiro, pleno de dignidade.

clipart

O Power Point é aquela ferramenta que se fosse pessoa era a Whitney Houston em “I Wanna Dance with Somebody”, com calças jeans de cintura subida e caracóis à anos 90. Só que em pleno 2013, e a mandar aquele pivete a démodé.

Uma pessoa que abusa dos efeitos do Power Point está claramente com vontade de tornar o conteúdo da apresentação completamente secundário, senão mesmo ilegível.  Só isso explica o carrossel de manobras visuais que nos distraem da leitura a cada fade in, fade out e fade all over the place.

No Power Point nunca se sabe por onde a frase pode entrar, e isso ao menos é emocionante. Às vezes entra matreira pelo lado, outras vezes materializa-se ali de repente, outras vezes esfuma-se no vazio. A frase é o Clark Kent dos Power Points – misteriosa, imprevisível e quando menos esperamos ela aparece.

Lê-la é que não dá.

Porque não há pupila no mundo capaz de ler uma frase que entra a rodopiar de forma completamente psicadélica, tipo roleta russa. E ainda estamos assim, sem jeito,

DOG

a babar neurónios para assimilar a frase, e já está outra frase a entrar de forma apoteótica, e o pior é que vem a descer degraus invisíveis antes de se fixar no ecrã.

Este é o efeito clássico que se usa para uma enorme – e quem não adora? – lista de bulletpoints. Os bulletpoints, esses amigos em bolinha, seta ou número que dispensam encadeadores frásicos ou qualquer necessidade de escrever bom português.

Até dava para lidar com eles, não fosse o enorme gráfico em tarte que entretanto voou para dentro da apresentação e tão depressa se esfumou porque o orador deu cliques a mais no rato.

Para ser realmente um pesadelo, era pôr a apresentação toda em Comic Sans e escolher um daqueles temas pré-feitos que parecem cortinados de idosa.

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