Não há nada mais execrável que o discurso utilizado em anúncios de emprego para jovens. Aqueles que visam uma tribo social em extinção, constituída por crianças-índigo entre os 24 e os 29 anos que são, pasme-se, proativos, dinâmicos, team-players, problem-solvers, Mantorras da escravatura com frescura.
Uma oferta de emprego para jovens, como aquelas com que me deparo, tem de possuir palavras como “pedalada”, “pinta” ou “pica”. Não interessa se se é competente, desde que se tenha “garra”. Não interessa se se fala línguas, desde que se tenha ideias super-mega-criativas, tipo ya.
Tem que ser “O” Estagiário – não menos que the one, o Neo da cena – e deve ser fortíssimo em anglicanismos acabados em ing – networking, brainstorming, despeding.
Ora, isto para mim é invocador de grómito. E, perdoem-me o paradoxo, esta wannabe-linguagem-jovem manda logo aquele pivete a empresa velhadas obsoleta. Parecem os nossos pais quando querem negar os entas e ser modernaços ao dizerem coisas como “Vi no Face” ou “Publiquei no Insta.” Não, senhores. Errado. Não forcem coolness.
Outro problema é o excesso de pontuação. Quando as empresas não querem um designer, mas um DESIGNER!!!!!!!! já é coisa para desconfiar. Ou quando fazem aqueles interrogatórios proativos e dinâmicos, que acabam sempre com aquela conclusão “ENTÃO ESTE TRABALHO É PARA TI!” Aqui vai um exemplo que acabei de encontrar no Carga de Trabalhos:
“– photoshop, illustrator,indesign, tratas por tu?
– as linguagens html, css, php, não são chinês para ti?
– o dreamweaver não te é estranho, nada estranho mesmo?
– ambiente macintosh é onde te sentes feliz?”
Socorro.