Perante a evidência de que já não vamos ter governo no pôr-do-sol de hoje, não consigo deixar de lado aquela sensação de vazio e de inconsequência. O nosso esforço caiu em saco roto, vamos regressar a uma estaca zero qualquer. E vamos ter de votar, mas já ninguém nos compra um “Agora é que é!”, e já ninguém nos tira as 7 pedras na mão quando formos às urnas. A nossa ingenuidade ficou algures entre a sobretaxa extraordinária e a parvónia do Relvas.
O próximo governo será como aqueles casais que voltam a namorar quando já têm demasiado histórico de zangas e desconfianças: a coisa até funciona na demência ilusória dos primeiros meses, mas num virar de lua as pessoas apercebem-se de que a pessoa que têm à frente é exatamente a mesma, só mudaram as coordenadas temporais e geográficas. E começa logo a mandar aquele pivete a roupa suja, que o casal teima em lavar, dia após dia, sem que a bafa desapareça. O problema é hormonal, senhores! E então casa e descasa, casa e descasa, numa ginga interminável de quezílias e amuos a que o povo assiste como o pior dos filmes com o Tom Cruise, sem poder fazer zapping.
Nunca fui muito fatalista, mas a sensação que me assolou ontem foi de cansaço. Pensei daquela forma redutora e aclichezada que tanto critico nos cidadãos menos informados: foi tudo em vão. Pensei que agora é que vou ter de emigrar. Pensei que se soubesse o que sei hoje já o teria feito há 2 governos atrás.
É triste querer viver por cá e abrir os olhos para uma imprensa pejada de manchetes vermelho-berrante, cuja escolha vocabular parece fruto de um copy/paste dos guiões do Titanic: “afundar”, “destruir”, “queda”, “dissolução”, “ingovernável”.
Desde quando é que esta passou a ser a nossa família de palavras predileta?
Não posso estar mais de acordo contigo!!!
Amiga bumbista, na miha geração, apesar de mais da sempiterna “maturidade” e “sabedoria” de vida, as palavras de ordem tb não são da família do derrotismo e arredores… Haja uma luz ao fundo do túnel dos nossos justificados pesadelos, porque a esperança é a última a morrer, à tempestade segue a bonança, e Deus afinal é mesmo grande, e até gosta deste rectângulo à beira-mar plantado, que eu sei…