Para ler os livros do Game of Thrones há que vazar a vista e capar as orelhas. É o preço a pagar por se gostar da saga em papel.
E porquê? Porque é fisicamente impossível – juro, eu tentei – não dar olhos ou ouvidos aos biliões de pessoas cuja razão de viver é comentar, partilhar e bradar aos céus o desfecho de cada episódio da série. São meistres, na arte negra do desmancha-prazer.
Ora, o George Martin devia escrever uma triologia só sobre este clash, entre os nobres revivalistas que saboreiam a riqueza da escrita VS os lambões que papam a série de uma assentada e resolvem contá-la por todos os meios e canais, o mais depressa possível, tipo sarna.
Quando surge a avalanche de posts por todo o lado – “Não acredito que mataram Fulano!” ou “Bem, agora o rei deve ser Cicrano” – o leitor que coitado ainda não chegou a essa parte não tem escolha para além de espetar um garfo no olho. Quando o tema surge numa conversa de café, o leitor tapa as orelhas e grita “LÁLÁLÁLÁLÁ”, e é considerado infantil pelo transeunte alheio. Ou submerge os ouvidos num decote avantajado, longe do perímetro de audição, e leva um rotativo nas ventas logo a seguir.
Para além de que cada vez que se revela um episódio nas redes sociais, morre um personagem de que nós gostamos. Estou convencida de que morrem por causa do bufo que se chibou.
E os bufos não percebem que para o leitor comum já é difícil viver sem saber, mas pior ainda é descobrir por fora. Nós, leitores, preferimos conviver com as bipolaridades sanguinárias de George Martin, e com a angústia de não saber se ainda vão matar, sei lá, o Hodor que é tão fofinho, mas queremos LÊ-LO.
Respeitem o leitor que ainda não vos ultrapassou na série, porque virar a página é mais fácil do que produzir Hollywood e um dia é o leitor a passar-vos à frente e, guess what, pode não mostrar misericórdia. Pode soltar a língua, e trair-vos.
E não é esse o encanto de Game of Thrones?
Afinal não sou a única geek! 😛