A propósito da noite de domingo, a da raridade lunar que só vai voltar a acontecer daqui a 18 anos, pensei na amizade. (não, não vai sair nada piegas). No meio de uma conversa profundamente banal entre amigos alguém se virou e disse “bora jurar que daqui a 18 anos “não sei quê” ” – nem percebi bem o que era, confesso – e sem ouvir a frase inteira apressámo-nos a juntar as mãos no meio, para selar a coisa com solenidade.
E eu fiquei a pensar. Não no “não sei quê”, mas no facto de termos as mãos todas empilhadas ainda antes de ouvirmos o fim da frase. Completamente despreocupados, sem interesse por aí além, como os grupos de amigos devem ser, mas se é para jurar qualquer coisa com 18 anos de validade ou, porque não, para a eternidade, aquilo que ocupa o pensamento primeiro é haver coordenação motora para empilhar as mãos sem acidentes e choques entre punhos e falangetas, não exatamente a ponderação do ultimato que ali se oficializa.
Não deve haver mais nenhuma relação social em que isto pudesse acontecer. Pelo menos sem ter mais significado do que aquele que mereceu ali, no elevador, ou seja nenhum. Esta promessa – e juro que não me lembro qual foi, não ouvi – tendo sido proferida entre namorados teria certamente um peso, um zumbido a expectativa e a momento marcante. “Vamos estar juntos daqui a 18 anos?” E fica ali a flutuar na conversa mas o ouvido não esquece, para mais tarde saborear a memória ou, na mira de um final infeliz, cobrar a ausência e azedar com “e ses”.
Se a relação fosse profissional, seria simplesmente patético. Que seria trabalhar à base de um “Juras?” – “Juro” e dar dois beijinhos nos dedos alternados em cruz?
O amigo é aquele que se está nas tintas para aquilo que vai ter de jurar, porque detém o privilégio da relação leve e desenredada do novelo das expectativas e das cobranças. Não há cautela nem palavras medidas porque se daqui a 18 anos não “não sei quê”, e depois? Amigos como dantes.
O amigo é aquele que nem espera até ouvir o final de “bora juntar as mãos no meio e jurar que….” e já lá botou os cotos, com a confiança cega de quem assina por baixo, saia o que sair.
Um poema autêntico, dos do século XXI, cheio de sinceridade, expontaneidade, pronto, sempre com uns laivos de receio da tal “pieguice”, gracious me, que mal há num pouco de pieguice, namorados ou não??
estou a ficar piegas, a idade não perdoa… mas viva a amizade, whatever quantidade e/ou qualidade de mãos e dedos entrecruzados that means!!!