O optimista e o pessimista

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Nos tempos que correm não sei se é melhor conversar com optimistas ou pessimistas. Há sempre quem veja o copo a encher ou esvaziar (há quem não veja o copo de todo).

O optimista é aquele romântico demasiado entusiasta nos seus “Vais ver que corre tudo bem”.  É o pateta que encontra o lado bom de tudo,  mesmo que esse lado seja tão remoto quanto chegar às 6 faces unicolores do cubo de Rubik. Nós queremos ser deixados a chafurdar no luto de uma situação má mas o optimista não deixa: “Partiste o braço? Ao menos não foi uma perna, e assim não conseguias andar! Ufa, podia ser pior! E que sorte, comes a gelatina do hospital! Isso é que é vida!”

O optimista inveterado não vê o copo meio cheio. O copo dele transborda. O copo dele são as cataratas do Iguaçú. O optimista tem o vício de enumerar as razões pelas quais “podia ser pior”. Pudera, podia sempre ser pior, não está ao nosso alcance imaginar o pior estado possível das coisas porque a nossa mente, por muito imaginativa que seja, não consegue (e faz por evitar esse processo de auto-flagelação).

Senão vejamos: partimos o braço, enquanto fomos ao hospital o nosso marido/mulher fugiu com a empregada, curiosamente levaram-nos o dinheiro todo do cofre mas deixaram-nos um cestinho à porta de casa com trigémios bastardos lá dentro e, pasme-se, são todos do Sporting. É preciso ter azar. Mas vem o optimista e diz: “Olha, ao menos não perdeste todos os entes queridos numa onda gigante, como aquela do filme!….. Hã?! Perdeste? Que chato… mas olha, então tens sorte porque agora tens três novos para os substituir.”

Não é raro ter vontade de dar rotativos no céu da boca do optimista. Para lá do sorriso imbecil, existe um tirano. O seu capataz é Albert Einstein e a sua tortura medieval chama-se Teoria da Relatividade. Agarra-nos pelos colarinhos e confisca-nos o direito de nos lamuriarmos, porque “podia ser pior” e na realidade estamos a ser injustos com a bondade do karma. Num ápice passamos de vítimas a sortudos, sem que no entanto nos deixe de doer o braço. E agora também dói o pescoço e ainda nos deram cabo dos colarinhos.

E o pessimista? Ora, o pessimista é um discípulo fiel de Medina Carreira (ou, como dizia eu em pequenina, um dos “testículos” de Medina Carreira). É aquele indivíduo inseguro que não se compromete com desfechos bons porque assim nunca se põe a jeito se a coisa der para o torto. Se a coisa correu bem, foi “sorte”. O pessimista adora avisar: “Ai mas tu vê lá.” “Ai mas isso é complicado”. Faz sempre avisos tão cáusticos como inconsequentes porque o pessimista não sabe bem o que é que teme, só sabe que o pior resultado possível são todos. O pessimista é avesso ao risco, mas nem tudo é mau, porque tem o condão de transportar objetos entre as bochechas do rabo. Porque as nalgas do pessimista só conhecem um estado, e é contraído.

O truque é que estas duas estirpes convivam, para que o nosso coração não seque antes de encontrarmos um desfecho equilibrado.

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