Caros críticos de música por esses jornais fora,
Eu não entendo a vossa linguagem. E isso encanita-me.
Deve haver um significado subliminar que a mim me escapa e aos outros não. Em tanta metáfora e referência, palavra de honra que me perco nos frufrus da vossa terminologia e chego ao fim sem saber se gostaram do raio do CD 0u não.
Felizmente ainda existe a velha técnica das estrelinhas de 1 a 5, mais ajustado ao meu QI de símio. Mas sendo assim escusavam de ocupar 1000 caracteres a discorrer sobre o abstrato, e ficavam só com escolha múltipla:
1. Bacano, 2. Fatela 3.Vou ouvir outra vez 4. Outros. (SEM opção Quais?). Poupava-se espaço no jornal para pôr mais bonecos.
É que ler os vossos comentários é voltar às aulas de Português A do secundário, aos pinotes mentais com a poesia de Álvaro de Campos, a tentar descodificar (inventar?) a suposta emoção de cada verso. Nenhum homem no mundo sente tanto, bolas! Em quantidade e qualidade, é estatisticamente impossível! But then again, devia ser do ópio.
Eu ainda sou do tempo em que se ouvia pop, rock, hip-hop, worldmusic, pimbalhada. Eram aliás os nomes das 5 pastas que continha o meu desktop, e eu vivia tão feliz só com esses estilos, finitos, circunscritos.
Isto foi até vocês introduzirem palavras como “fusão”, “alternativo”, “híbrido” ou “eclético” no vosso vocabulário. Uma linguagem de tal forma complexa que a Humanidade fez curto-circuito e quando acordou era moda fundir estilos anarquicamente. Vai daí que as 5 pastas do meu desktop começaram a procriar sem camisinha e nasceu o electrorock, o afrojazz, o techno-breakbeat-funk, o indie-cha-cha-cha e outros tantos irmãos bastardos. Tomara eu saber contá-los, quanto mais entendê-los.
É que se me convidarem para um concerto de estilo Folclórico-Hardcore, eu juro que não sei para o que vou. Imagino um grupo de minhotas e Pauliteiros de Miranda às pauladas uns nos outros, a fazer moche e a partir guitarras. E não, não sei o que é o estilo tecnho-pop-indie. É mais techno, mais pop ou mais indie? Em termos percentuais, digamos? Podemos ver um gráfico em tarte?
Foi aí que deixei de falar com os meus amigos sobre música, para não ter de passar pela vergonha de não saber descrever as bandas. Também deixei de ir à FNAC com eles, para não ter de fingir que sei perfeitamente para que estilo me devo dirigir.
Querem roubar-me tudo na vida, críticos de música?
Atenciosamente,
Afrobumba na Electrofinha
Muito bom!
Ass:
MysticFusion Electropop!