Os aeroportos são autênticas montanhas-russas de emoção. Hoje testemunhei este argumento, e é de um avião em plena turbulência que vos escrevo. Vamos por partes:
Primeiro, o taxista que me vai levar ao aeroporto da Portela jurou-me a pés juntos que a Segunda Circular estava a “andar bem” mas por coincidência 3 veículos decidiram colidir no rabinho uns dos outros LOGO nos 15 minutos em que eu queria ter a faixa de rodagem só para mim. No pára-arranca dou por mim a suar do bigode, a emoção dominante é a angústia de não chegar a tempo.
Segundo, a azáfama do check-in, o striptease seguido de apalpões na alfândega: ombros, axilas, coxas e por aí fora, sem descurar traseiro, não vá ser portadora de objectos cortantes e/ou saquitos de cocaína entre as nalgas contraídas. A Sra.Guarda que executa este amasso é, regra geral, mais masculina que muitos homens que conheço. A emoção varia, ora desconforto ora nojo.
Terceiro, a minha necessidade obsessivo-compulsiva de estabelecer contacto visual com a porta de embarque; enquanto não a vejo estou desconfortável, é uma doença de que padeço. De caminho, vou fazendo o exercício que já todos fizemos: “então e se entrasse nesta porta em vez da minha? Deve estar quentinho na Costa Rica! Ou vou antes para Alberta? O que haverá lá?” Fico curiosa.
Quando já estou cara-a-cara com o ecrã que me mostra o destino, relaxo. Mas, curiosamente, é quando eu relaxo que todos os outros passageiros entram em stress. Nunca percebi este fenómeno: estamos a 20 minutos da chamada para embarque e já estão dezenas de indivíduos amontoados em fila, que nem bicharada de aviário, no desassossego de chegar primeiro. A hospedeira nem está lá ainda! E eu pergunto-me: saberão eles algo que eu não saiba? Uma vez que há lugares marcados e espaço para tudo, qual é a pressa? A pressa de ficarem em pé na fila, com pernas a gangrenar durante 20 minutos, só para se sentarem mais depressa no avião? Não entendo, pelo que só sinto descrença na inteligência da raça humana, se é na minha ou na dos fazedores de filas não sei.
Já dentro do avião, aí é que são elas. Enquanto ouvimos o inglês de babuíno do comandante – “Ladies and gentleman, fafafafafafafafafa fafafafa fafafafafafa fafafa and welcome aboard” – vamos espreitando ao longe para nosso lugar, com pavor de descobrir os cheiros e texturas do nosso companheiro de fila… O receio que é calhar ao lado de um obeso mórbido que não nos deixa pousar o cotovelo…O verdadeiro drama que é ficar nos lugares do meio, cercado de assentos ocupados, com o efeito placebo a dar-nos uma vontade incontrolável de fazer o número 1 e o número 2… e nós temos de decidir qual colega do lado é que nos vai odiar menos por ser acordado. Experimentamos o pânico claustrofóbico, ao som do “um dó li tá”.
E o pior, senhores, é quando a cabeça adormecida desse colega do lado começa a pender, muito lentamente (às vezes em velocidade imperceptível a olho nu) para o nosso espaço vital. O cabeça inerte do invidíduo anónimo parece puxada por um fio invisível para cima de nós, às vezes aterra no colo, outras vezes no ombro, e ele não acorda. Não é invulgar seguir-se-lhe um ronco bem gutural, a escassos centímetros do nosso tímpano. Aí já aborrece, e a emoção que predomina é um “hospedeira-tire-me-este-gajo-daqui-ou-vou-ter-de-lhe-espetar-um-uppercut-nas-ventas”.
Por fim, acabamos a montanha russa já na sala de chegadas, com o movimento giratório da nossa cabeça a seguir o tapete rolante das malas sobreviventes, com sensação pessimista de que a nossa mala ficou, com certeza, no cemitério dos perdidos e achados. Até avistarmos e apalparmos a nossa, vivemos no medo – cagaço, miaúfa na gíria.
Chegamos cá fora e, como no meu caso hoje, podemos não ter ninguém para nos receber, mas é sempre acolhedor dizermos um adeus geral para a atmosfera, não vá alguém estar à espera de ninguém e querer devolver a cortesia.
Ufa, tranquilidade, no taxi a caminho do destino.
E chegar ao check-in e realizar que afinal não temos bilhete marcado? Ou quase a entrar no avião vir uma hospedeira dizer que já não há mais espaço para bagagens de mão, que vai ter que ir tudo no porão? Cereja no topo do bolo é mesmo um atraso à maneira, para cima de 2 horas, sem justificação ou pedido de desculpas! Também nutro uma grande paixão por aeroportos e seus derivados……………
A Bumba na Fofinha estava no aeroporto!!!!!
OMG!!!
Se soubesse tinha lá estado cheio de flores…sim ainda sou um romantic full 🙂
hilarious, for a change, Mananulas… still your biggest fan, I “fear”… Velha
De repente tomei consciência, não sem uma certa perplexidade, de que gosto menos ainda de aeroportos e de viajar de avião do que do futebol(?) do Sporting ou do autismo-tipo-man-on-a-mission do Passos Coelho. Não foi um insight feliz, de facto…