Se há coisa que me encanita no meu trabalho são as reuniões. Sinto que vivo mais tempo em reunião do que a trabalhar a solo.  Se há novidades, reunião. Se é preciso discutir, reunião. Se é para fazer as pazes depois da discussão, reunião. Todos os caminhos parecem chegar à sala de reuniões.

Há várias coisas que me aborrecem sobre reuniões:
1. No PRÉ-REUNIÃO // O e-mail para convocar a reunião costuma ser enviado para os 3 indivíduos que realmente precisam de estar na reunião. Quando não me vejo contemplada nessa lista começo a inspirar lentamente para expirar de alívio de forma boçal, mas eis que… bolas, estou em CC. Ahhh, o CC. Esse mundo infindável de subentendidos.  Estar em CC é estar implicado sem estar; é ter “conhecimento” mas não saber o que fazer com ele. Para o remetente, é uma fusão entre “depois não digas que não te avisei” e “lavo as minhas mãos disto”, como se a batata quente ganhasse pernitas e passasse para mãos alheias no segundo em que se clica em Send.

Irrita-me, este poder coercivo. Depois não temos qualquer desculpa cósmica para alegar que não soubémos ou não vimos. E infelizmente a desculpa do “o e-mail não chegou, juro!” já não é viável desde 1998. Imaginem se tivesse sido sempre assim. Era ver Nostradamus queixar-se a Jesus Cristo -“Estavas em CC quando avisei que o mundo ia acabar!” e outros que tais.

No caso das reuniões, o dilema é: o que significa este CC? É para ir à reunião ou é só para saber que a reunião vai ter lugar? Posso fingir demência ou arrisco-me ao Out of Office perpétuo?

2. No DURANTE A REUNIÃO // Costuma ser um verdadeiro suplício. Não pela falta de amena cavaqueira, já que é difícil esgotar o tema do tempo, do futebol, da crise, da genealogia familiar ou das migas do almoço. É um suplício porque ninguém se concentra em debater os tópicos por resolver, antes fala-se sobre a razão de ali estarmos reunidos. Constatámos que isto, logo aquilo, por isso aqueloutro. E, correndo o sério risco de citar Marco Borges do Big Brother neste blogue, eles “falam, falam, falam e não os vejo a fazer nada”.

Comenta-se a necessidade de fazer uma série de coisas sobre uma série de situações, que derivarão numa série de consequências. Faz-se magia com as palavras e uma pessoa perde-se naquele raciocínio. Damos por nós e o encontro foi apenas e só uma reunião sobre a reunião. Sai-se de lá em jejum, com uma sensação de vazio, e na realidade ninguém sabe o que é que ficou incumbido de fazer, onde e para quando. É como ir a uma coffeeshop em Amesterdão, mas sem a parte divertida.

3. No PÓS-REUNIÃO // Chega-nos o resumo por e-mail, os biliões de documentos em anexo e, no corpo de texto,  o famoso – abram alas para ele – FYI. Para quem não sabe, é o acrónimo para “For Your Information”. E o dilema é: agora que sou detentora desta informação, como se de força Jedi se tratasse, o que faço? Nada? Tudo, e ainda dou o corpinho? Voltamos à dança das responsabilidades. E depois não há culpados, porque o CC encarrega-se de distribuir irmamente a culpa.

Esta é a razão para eu querer aniquilar as reuniões do meu dia-a-dia. No outro dia, por exemplo,  assaltaram-me a conta bancária, mandaram-me um simples FYI e botaram Portugal inteiro em CC. (qualquer semelhança com a conduta do nosso governo é pura coincidência)

A partir de agora, tanto quanto me cheguem estes FYI’s vou responder com outra sigla ao calhas, tipo “YMCA” ou “PEC4”. Só para ver o que é que acontece.