Este fim-de-semana fiz algo de que não me orgulho. Cedi. O efeito coercivo do que está na moda e do que não está levou-me ao delírio e agora estou arrependida.
Sucede que deitei fora a minha belíssima – e perfeitamente em condições – lancheira da Becel. Um saco térmico como há poucos, elegante, bem detectável no breu, derivado da fluorescência. Que durante anos zelou pelo interesse do meu pequeno-almoço, almoço e bucha para o ratito a meio da tarde. Um 3 em 1 espectacular, nobre até, que lhe foi interdito por não ser fashion.
Percebi que vivo num país onde não é cool ter uma lancheira amarelo-canário, nem qualquer item de merchandise alimentar, por mais útil e funcional que seja. Quem me conhece sabe bem que não me podia estar mais a marimbar para o grau de fashionismo da minha marmita, da mesma forma que ostento nódoas na roupa e verniz a descascar como as mulheres-a-dias com relativa indiferença. O meu carro é um Clio comercial com 13 anos que larga peças, 100% funcional, 0% cool. Não gosto de tablets, não tenho uns Ray-Ban nem uso relógio, muito menos da Casio. Tenho sim umas calças de fato-de-treino da Abibas, compradas no Peru, e adoro-as porque são quentinhas. Orgulhava-me, até este fim-de-semana, de não me importar com o ser cool. Mas depois aconteceu isto.
Dia após dia, a minha lancheira amarela foi motivo de chacota laboral. Era o patinho feio das lancheiras, as pessoas gozavam, apontavam, tapavam a vista perante a fluorescência. Eu entrava no escritório e precipitava-me a correr para o frigorífico, para ninguém saber que era minha. Foi um autêntico bullying, para mim e para ela. Eu gostava dela, era a minha companheira térmica, incansável a manter o fresquinho e afastar salmonelas. Mas comecei a acusar a pressão e – custa-me dizê-lo – deitei-a fora. Até hoje não sei como, eu não estava em mim. Foi só por ser da Becel?
Vamos lá ver: a Becel é uma marca sólida, ajuda com o colestrol e em termos nutricionais é isto e aquilo… mas não é cool. Está longe de fazer um acessório estiloso. É como ter uma saída de praia da Calgonit. Ou argolas de plástico da Ruffles. Se no lugar das letras azuis a dizer Becel estivesse, sei lá, o indivíduo a cavalo da Burberrys, aí já seria cool? Não sei.
Foi com este pensamento irracional que eu desisti de lutar, e hoje arrependo-me. A brincar a brincar, dei por mim sem aconchego térmico para o almoço. Os tupperwares, quando têm tampa, vão a badalar dentro de um saco feio. O almoço começa em frio e acaba num perigoso morno à hora do almoço. Bem feita para mim que sou lambona, quis comprar uma lancheira nova no Jumbo e só há sacos feios, nada fluorescentes, a partir de 30 euros. E no dia 26 do mês já não possuo essa maquia.
Onde é que eu tinha a cabeça?!?!
Isto continua assim e dou por mim a deitar fora as calças da Abibas. Se isto acontecer, por favor, exterminem-me.