Adoro esta expressão. É um oásis de desculpabilização infinito. Perfeita para quando estamos prestes a fazer asneira e não queremos dar cabo da consciência. Quando nos sai um “perdido por 100, perdido por 1000”, é como se os 900 erros que vão dos 100 aos 1000 significassem só um, porque o estamos a oficializar em voz alta e assim sendo merece uma espécie de perdão papal.
Tanto eu como a maioria das mulheres abusa deste raciocínio, principalmente naqueles momentos em que:
– Queremos corromper a nossa dieta. “Agora que já dei um pontapé na dieta, posso ceifar tudo quanto há de gorduroso e açucarado sem ter de me castigar por isso”. Como se o facto de termos comido um bocadinho de chouriça “sem querer” (dissimulada no meio do caldo verde, a sacana!) nos desse liberdade para deitar tudo a perder e afinfar na morcela, nos ovos com farinheira e no pudim-flan que nem nativas da Somália. “Olha, paciência, agora já está”, dizemos nós com peso no bandulho e zero na consciência.
– Queremos incorrer numa recaída/traição amorosa. “Agora que já dei um chocho no amante/ex-namorado que jurei em Fátima que não voltaria ver o mal já está feito, por isso tecnicamente é permitido trair até ao fim.” E assim surgem os bastardos, felizmente não aos 100 nem aos 1000 de cada vez.
– Queremos gastar dinheiro sem culpa. “Agora que já comprei o hidratante tenho de levar o esfoliante, que vem 2 em 1 com o drenante e outras coisas acabadas em ante – ah mas é tão caro! – paciência, é uma vez na vida e já que estou numa de gastar…!” E assim se estoira um salário em futilidades.
Ora bem. Vamos lá verbalizar isto em voz alta: NÃO É A MESMA COISA. Perder por 100 é MENOS PÉSSIMO do que perder por 1000. Comer 1 quadrado de chocolate é melhor do que devorar 24! Um beijo na boca é menos péssimo que um apalpão na nalga! E não, não precisamos de drenante!
Mulheres emancipadas, não nos deixemos ludibriar por esta almofadinha ortopédica para a culpa! Quando no fundo já sabemos que o que desejamos realmente, entre malabarismos e frufrus ilusionistas da mente, é fazer borrada da grossa. Façamo-la então, mas não tentemos convocar um desfile de palmadinhas nas costas para lidar com o assunto por nós!
Proponho um “perdido por 100, ganho por >100.” Ainda vou aprofundar a teoria, mas para já fica um quick faça você mesmo:
– Pontapé na dieta = 60 mins a suar do bigode no ginásio
– Incidente amoroso = vergastada nas costas e pedir desculpa a Fátima
– 1 Salário estoirado = 2 salários para o porquinho de porcelana
E tenho dito.
By the way, voltei a escrever.
Vocês que começaram a ler vão ter de levar comigo até ao fim. Perdido por cem perdido por mil, paciência.
Brilliant!
Eu e o Bernie adorámos ler, aqui no hotel e de férias e a ter uns óptimos dias e a conviver bué e a jantar muita bem e a gozar a companhia da família e etc e tal. Ganho por 100, ganho por mil. E não, não ganhámos o euromilhões mas até que jogámos todos.
Eu, Mimi, acabo de ler e deliciei-me. Temos escritora!!!, o que não admira, já sabíamos.
Acho bem as penitências, mas como estou velha, acho que nem todos os 365 dias do ano podemos ser assim tão severos connosco próprios. Mas, no geral, concordo. Percamo-nos só por 50!!