Amor (in)condicional

Ontem fui ver o “Drive”, com o Ryan Gosling. Fulano loiro, de olhar zangado com a vida, pinta de quem está prestes a desatar aos rotativos. Até ontem não conseguia deixar de o achar jeitoso. Há charme naquela pose reservada, no palitinho a rodar pelas dentuças (obviamente que só se permite em Hollywood, cá quem palita é labrego e/ou benfiquista). Engraçado, o efeito do palito, na menina que cai redonda de paixão sem que o Ryan tenha que proferir mais do que 3 ou 4 monossílabos. Faz lembrar o último Twilight, onde vemos o menino-lobo tirar a t-shirt volvidos 6/7 segundos do início. Estava calor!

Mas no “Drive” a sedução foi menos unânime, porque quando já estava em modo “Marry you” de Bruno Mars, o senhor resolve esborrachar um crânio humano com não menos do que o seu calcanhar direito. Sim, o calcanhar direito. A parte mais redondinha, onde faz casca quando as pessoas são velhas.

Vemos esta cena acontecer em detalhe anatómico, como se do nosso crânio se tratasse. Estilhaça, esmigalha, desfaz, repuchos de sangue à la Tarantino. Nunca pensei ver tanta raiva passível de se desferir com um calcanhar. Aquiles terá dado voltas na sua campa mitológica.

Tudo isto para dizer que os momentos que se seguiram foram de grande conflito para mim. Não porque no mesmo filme ainda vi um garfo a ser espetado num olho humano – e isso deve aleijar – mas porque já não vejo o Gosling da mesma maneira. Já não o amo incondicionalmente desde que o vi naqueles preparos de ontem, todo badalhoco, com as fraldas de fora, e com a apatia emocional de quem sofre de um pequeno atraso. O Ryan Gosling do “Idos de Março” teria ficado envergonhado. Mas estou triste, porque o nosso amor era verdadeiro.

Tipo aquele amor de quem se vai deitar sem desconfiar que o outro vai esborrachar um crânio com o calcanhar durante a noite.

 

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3 Comentários Add yours

  1. Marta!! diz:

    Watch Crazy Stupid Love! Then we’ll talk some more!

  2. Carolina Melo de Castro diz:

    Marien… genial!! O blog está d mais e em relação ao Sr. Ryan Gosling confesso que também suspiro pelo moço, considero me uma goslingaholica (não sei se é o termo correcto) mas continuando a minha retórica venho por este meio ser advogada de este tão ilustre senhor, confesso que o drive é bastante violento, mas isto demonstra que viva temos actor, o homem versátil como este é difícil de encontrar, ele é actor para todos os papeis, por isso não desistas dele, aconselho vivamente a veres crazy, stupid, love, vais ver é remédio santo, o queixo voltará a cair e aquelas buterflys voltaram a aparecer mal o homem entrar em cena!!
    Ainda na minha teoria da versatilidade, aconselho tb a ver Lars and the real world, ai o homem perdeu o juízo de vez, mas tb é bom termos uns malucos na nossa vida e o amor que ele demonstra pela boneca é uma coisa linda de se ver, mas fico m por aqui para não estragar o filme e é melhor começar a finalizar senão ainda escreveria uma tese em relação a este assunto!! Marien mts parabens o blog é muito bom, tou fã, ainda dou umas boas gargalhadas sozinha no meu quarto!!
    bjinhos e aguardo por mais posts!!

  3. david diz:

    essa questão do palito tem muito que se lhe diga, e é dos poucos pormenores que não gostei no “drive”.
    explico porquê: não se pode mostrar um pormenor desses com tanto ênfase no início do filme e depois desprezá-lo a partir do início do segundo acto. ele perde um pouco da sua identidade quando se decide não se mostrar mais o palito.
    ainda assim, acho o filme muita bom. e este texto também – finalmente uma crítica a um filme que gosto de ler.

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