É muito difícil viver com a cabeça meramente colada ao corpo, sem qualquer tipo de conexão física para além das epidermes que ligam o queixo ao pescoço (onde nos idosos se desenvolve aquele “papo” de pendurezas que nós gostamos de apertar mas nunca vamos querer ter). Graças a Deus que é uma ligação siamesa se não muitas cabeças iam rolar, de valeta em valeta, a sofrer remates dos transeuntes, qual cenário de Sleepy Hollow.
Esta mensagem é para todos aqueles que vão tendo uma relação cada vez mais estreita com a expressão popular “só não te esqueces da cabeça porque ela está colada ao corpo!”. Quem a diz, normalmente indivíduos acima dos 75, dirige-se aos embaixadores da Distracção e do Despistanço, aqueles que nunca sabem em que dia da semana/mês estamos, aqueles que vestem a camisola do avesso e que voltam a casa 5 vezes antes de sairem com todos os itens essenciais.
Este último é um verdadeiro clássico do meu irmão Pedro, que nos tempos áureos de escola secundária saía em alvoroço, já atrasado, e fechava a porta atrás de si. Eu, ainda aninhada na cama, fazia a contagem decrescente de olhos fechados: “3…2…1….” e lá estava o Pedro a entrar de novo – “Alguém sabe do meu telemóvel?!” – para começar a dança das escadas, graciosa, poética, qual lago dos Cisnes… ora sobe e esquece das chaves, ora desce e esquece da mochila, ora sobe e tem pasta de dentes na bochecha, ora desce e mantém remendo de papel higiénico no corte da barba… melodia bonita, a dos passos abruptos do Pedro a galgar a madeira, tum tum tum tum tum dá meia volta tum tum tum tum tum volta para baixo, pirueta, pivô, mortal para trás, “Onde é que está a minha carteira?!? Ah, na minha mão”, fecha a porta atrás de si e lá vai para a escola.
Louvadas epidermes, portanto, que situam a cabeça do Pedro acima dos ombros e não no limbo abstracto onde ele acha que vivem as chaves, carteira e telemóvel, conversando em conluio contra ele, para que não se deixem encontrar.
Esta patologia é na realidade um mal de família. A minha cabeça também vai escorregando de vez em quando, como ontem, quando decidiu rebolar, numa fúria suada, directamente para o balneário dos homens depois de exercitar o lombinho no ginásio. Mas em nada se pode comparar com a mestria do Pedro, cujo aniversário é hoje mesmo, e a quem vou dedicar este post com um valente BUMBA NA FOFINHA!
São quase três dezenas de Primaveras como sumo pontifície da Distracção e Despistanço, a quem todos devemos máxima devoção, porque não há mais ninguém no mundo que estude para Geografia quando o exame é de História, ou que saia do trabalho com dois quispos – o seu e o do colega, empilhadinhos um no outro, com o devido capuz a relembrar que em cima dos ombros há, realmente, uma cabeça. E uma bem grande, não é “Besson”?
Parabéns da Buck. 🙂
Brilliant. Nem foi preciso recordar quando à entrada para a Universidade se esqueceu que não tinha feito o Português do 12º ano e teve que, apressadamente, ler Pessoa, Vergílio Ferreira e outros colegas de cultura, foram 15 dias intensos e um 15 no fim. Parabéns.
Não poria a coisa melhor! Quem não se lembra quando com 38graus de temperatura se queixava de calor tendo uma camisola de lã e uma camisa de flanela vestidas? Só mesmo ele! Um grande beijinho de parabéns e outro à mana pela accuracy da descrição!
Eu não teria dito melhor! É beeeeem buck!
Os meus manos tocavam à porta às tantas da madrugada porque se tinham esquecido das chaves…. em tempos sem telemóvel!
Nada tão glorioso como o grande Pedro!
Parabéns ao dito e à Mana dele, que eterniza detalhes que só com muito amor se recordam! bjs!
hhmmm… já me esqueci do que ia dizer! aliás, nem percebo o que estou a fazer aqui e agora…